quinta-feira, 26 de agosto de 2010

As Escolas (Linguística Histórica)

Como foi dito na última postagem, os estudos da Gramática Geral acerca da linguagem, passaram a ser questionados pela Linguística Histórica do século XIX.
O modelo de cientificidade dessa escola, como o próprio nome diz, é a história, ou seja, suas abordagens são diacrônicas, e ela defende o caráter transformacional das línguas, e não o seu caráter lógico-estático. Essa escola procurava responder questões como, o porque das línguas se transformarem e como elas se transformam.
No interior dessa escola surge o comparatismo, onde se buscava a língua-mãe que pudesse ter dado origem à todas as outras línguas européias. Essa busca se dava por meio de comparações entre línguas, estabelecendo seus laços de parentesco, ou seja, elas deviam ter um tronco comum.
Na gramática comparada estabelecia-se uma relação entre o sânscrito e a maioria das línguas européias, fossem elas antigas ou modernas. Essa relação se dava por correspondências entre as línguas, qualquer que fosse sua distância no tempo, procurando que elemento X de uma época ocupa o lugar do elemento Y da outra, ou seja, em momentos distintos, tal elemento ocupa a mesma posição que outro elemento, de outra língua.

Surge a tese do declínio das línguas, que tentava explicar as transformações das línguas. Segundo essa tese, a língua não era um meio, mas um fim: o espírito humano moldava-se como uma obra de arte, em que procurava representar-se a si mesmo.
As línguas tiveram de assumir 3 formas principais: isolantes, aglutinantes, e flexionais.
As isolantes eram inalisáveis, não se podia distinguir sequer elementos gramaticais dos lexicais;
As aglutinantes comportam palavras lexicais e gramaticais, mas não há regras para a formação de palavras;
Nas línguas flexionais, existem regras precisas que comandam a organização interna das palavras.

Segundo essa tese portanto, todas as línguas passaram de isolantes à flexionais, ou seja, passaram por estágios diferentes. Assim explicava-se as mudanças das línguas.

Já os neogramáticos diziam que as línguas se modificam por conta de sua organização interna. Para eles não há outra explicação para as mudanças da língua, senão a história.


Próximo post: Saussurianismo

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

As Escolas (Gramática Geral)

Antes de Saussure estabelecer suas teorias sobre a linguística, duas grandes escolas vigoraram no meio linguístico, a Gramática geral e a Linguística Histórica. Nesse post vou falar um pouco sobre a Gramática Geral e no próximo, sobre a Linguística Histórica.

Antes da Gramática Geral os únicos estudos sobre a linguagem se davam por meio de especulações filosóficas e literárias. Não havia um estudo sistematizado sobre a linguagem, pois ela era vista como simples ferramenta usada para compreender a literatura e a filosofia.
Com o advento da Gramática Geral de Port Royal se inicia uma certa sistematização da linguagem. Ela passa a ser vista como espelho do pensamento, ou seja, o lugar em que há uma organização mais clara e objetiva do pensamento, sendo que o mesmo, expressa-se por meio dela. Devido à isso, começa-se a pensar em categorias da linguagem, como por exemplo, as noções de sujeito e predicado, pois o pensamento, seria expresso por meio das frases, divididas em sujeito e predicado.
Vê-se portanto, que passa a haver uma adequação da linguagem à uma certa lógica matemática: esse era o modelo de cientificidade da Gramática Geral, e tudo que fugisse dessa lógica passava a não ser considerado linguagem.

Esse estudo passa a ser questionado pela Linguística Histórica, no século XIX.
Falaremos sobre essa escola no próximo post.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Existe linguagem animal?

Nosso primeiro 'post' destina-se a abordagem do tema Linguagem Humana x Linguagem Animal. Abordamos o assunto na última aula de Epistemologia da Linguística, e agora vou tentar resumí-lo aqui.
Será que existe uma linguagem entre os animais? Se sim, em que esta se assemelha com a linguagem humana, e quais as diferenças entre as duas?

No capítulo 5 da obra de Émile Benveniste 'Problemas de Linguística Geral I', esse assunto é abordado. Benveniste nos expõe, nesse capítulo, que Karl von Frisch foi o responsável por estabelecer soluções à essas questões. Em suas pesquisas ele analisa o processo de comunicação entre as abelhas: a abelha-obreira, depois de encontrar uma fonte de alimento e saciar-se, volta à colmeia e passa a informação às outras abelhas da colméia, por meio de danças. São duas danças: uma circular, em que ela traça círculos horizontais da direita para a esquerda e vice-versa, e uma em forma de oito, em que a abelha, por meio de uma vibração do abdômen, segue em linha reta, faz uma volta completa à esquerda, segue em linha reta novamente e recomeça uma volta completa para a direita, e assim sucessivamente.
Depois de presenciarem essas danças, as outras abelhas seguem em direção ao local em que a primeira abelha se saciou, e depois de saciar-se também, retornam à mesma colméia e retransmitem a mesma informação, com as mesmas danças, gerando outra partida de abelhas.
Karl percebeu então que essas duas danças eram verdadeiras mensagens que anunciavam a descoberta de alimento para a colméia: o odor da obreira permite a descoberta da natureza do alimento e as danças permitem a descoberta do local em que ele se encontra.
A dança circular indica que a fonte de alimento deve ser procurado à pequena distância. A dança em forma de oito, indica que a fonte está situada a uma distância superior. A mensagem comporta duas indicações: a distância e a direção que as abelhas devem tomar para encontrar o alimento. A distância está indicada no número de figuras desenhadas num tempo determinado; a direção a ser seguida é dada pela direção da linha reta em relação à posição do sol.

Num primeiro momento podemos pensar então, que existe mesmo uma linguagem animal, porém, se pararmos para analisar os aspectos que caracterizam a linguagem veremos que estamos errados. Apesar da comunicação entre as abelhas ser extremamente precisa, ela não constitui uma linguagem e sim um código de sinais. Mas porque um código de sinais?
  • As abelhas são capazes de compreender uma mensagem como vários dados e manter na memória informações sobre a posição e a distância do alimento; 
  • Elas produzem essa mensagem através de símbolos, ou seja, simbolizando esses dados através das danças.
Vemos que há simbolismo, ou seja, as abelhas tem a capacidade de formular e interpretar um signo e também de reter na memória a informação e analisá-la, e, além disso, essa comunicação vale no interior de uma mesma comunidade e todos os seus membros estão aptos a empregá-la e compreendê-la igualmente. No entanto não são só essas características que determinam o que é linguagem.
Existem diferenças enormes entre a comunicação entre as abelhas, e a linguagem humana, como por exemplo, não há intervenção de um 'aparelho vocal' na formulação da mensagem, visto que essa se dá exclusivamente pelas danças, ao contrário da linguagem humana, em que um 'aparelho vocal' se faz essencial; a mensagem da abelha não provoca respostas, ou seja, não há diálogo; a abelha não constroe uma mensagem a partir de outra mensagem, a comunicação se refere à um dado específico, ao contrário da linguagem humana que se caracteriza por oferecer um substituto à experiência; o conteúdo da mensagem é único, não ilimitado, e a mensagem das abelhas não se deixa decompor em elementos menores para ser analisada.

A propriedade mais fundamental na linguagem humana é a de articulação, não presente no sistema de comunicação entre abelhas, que permite que uma infinidade de mensagens novas sejem construídas a partir de um número limitado de elementos sonoros distintivos.

Vimos então, que não existe de fato uma linguagem animal, e sim, apenas um código de sinais, que mostra-se eficiente dentro da sociedade das abelhas, por exemplo.


Fontes: Introdução á Linguística: I.Objetos teóricos (José Luiz Fiorin);
            Problemas de Linguística Geral I (Émile Benveniste)

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Pra começar..

Esse blog é destinado à exposição de trabalhos, pesquisas, resumos e resenhas acerca das aulas de Epistemologia da Linguística, ministradas pelo Professor Roberto Leiser Baronas, na Universidade de São Carlos (UFSCar). Além disso, serão postados também outras coisas relacionadas ao curso de Linguística.