domingo, 5 de dezembro de 2010

O Funcionalismo em Linguística

O funcionalismo irá pensar a função das palavras no momento da interação, ou seja, numa situação de diálogo, por exemplo.

O PONTO DE VISTA TEÓRICO
Há uma necessidade de estabelecer uma seleção entre os fenômenos a serem descritos; diferente de Saussure, que se prendia à forma da linguagem, descartando as questões discursivas, o funcionalismo irá olhar a linguagem em uso, no processo de interação verbal.
Nessa escola há também uma mudança no modo de fazer pesquisa, pois se pensava a linguagem como Saussure pensava.
Surgiram várias tendências, como a sociolinguística, a Linguística Textual, a Análise do Discurso, a Análise da Conversação, entre outras. A teoria funcionalista foi uma dessas tendências que não tem seu surgimento tão recente. Seu ponto de vista pode ser encontrado na Escola Linguística de Praga.
Roman Jakobson foi pioneiro nessa teoria, estendendo a noção de função da linguagem, que antes estava restrita apenas à referência na teoria estruturalista, a outras funções que levam em conta os participantes da interação (a fala). Segundo seu esquema, na situação de interação existe um emissor ,que emite uma mensagem utilizando-se de um código (a língua), através de um canal, á um receptor, de acordo com o referente.
As funções, para Jakobson, seriam, a emotiva, a conativa, a fática, a referencial, a poética e a metalinguística.

Existem muitas correntes funcionalistas, porém não há um modelo único para todas elas. Temos porém, que o que é importante para a corrente funcionalista é:
  1. a concepção de linguagem como um instrumento de comunicação e interação social;
  2. o estabelecimento de um objeto de estudo baseado no uso real, o que significa não admitir separadamente sistema e uso, como faziam os estruturalistas.

Segundo os funcionalistas então, a linguagem é vista como uma ferramenta cuja forma se adapta às funções que exerce, e , desse modo, ela pode ser explicada somente com base nessas funções, que são comunicativas. Devido à isso, consideram a necessidade de descrever expressões verbais (frases e diálogos), relaticamente em consonância com seu funcionamento em contextos sociais específicos.

sábado, 20 de novembro de 2010

Paradigma Materialista nos estudos da linguagem - Discurso

Dentro desse paradigma existem três diferentes análises do discurso européias, que serão explicitadas abaixo:


A TENDÊNCIA FRANCESA
Essa tendência irrompe a partir do questionameto sobre o estruturalismo na década de 60. Contestava-se o fato do estruturalismo ter como um de seus objetivos descrever as regularidades do sistema, ou seja, da língua, sem levar em conta fatores externos à ela, como por exemplo, a história. 
A tendência francesa mobiliza 3 regiões do conhecimento, o marxismo (materialismo histórico/relações de poder econômico/luta de classes), a psicanálise (teoria do sujeito) e a linguística (organização interna da língua), para propor uma descrição e interpretação da vida dos signos na sociedade.
Em relação ao corpus, há um privilégio de grandes conjuntos de textos escritos, buscando compreender as condições que possibilitam a sua emergência em uma determinada época e não em outra;
Além disso, essa tendência propõe uma ruptura epistemológica em relação à língua saussuriana, tendo como objeto o discurso, e não mais a língua fechada em sí mesma.

A TENDÊNCIA ANGLO-SAXÔNICA
Se inspira sobretudo nos trabalhos de Austin acerca dos atos de linguagem (a linguagem se organiza em diversos atos, tais como, os locucionais, de descrição, de orientação, de intimidação e etc..), e busca compreender as regras pragmáticas que organizam o agir linguageiro dos atores numa situação de comunicação e interação dada.

A TENDÊNCIA ALEMÃ
Essa tendência é guiada pela teoria do agir comunicacional de Jürgen Habermas e busca construir um modelo teórico para a crítica da autoridade e da desigualdade nas interações discursivas e sociais, partindo da hipótese de que é o discurso que permite aos parceiros discursivos se encontrarem sobre um terreno cultural e interpretativo comum.

Veremos agora, as tendências brasileiras:
  • Tendência Pecheutiana, de Michel Pêcheux: analisa as relações entre discurso e ideologia e a inscrição da língua na história. Essa tendência se divide em: Histórica (quer compreender as condições de emergência dos discursos), Linguístico-Enunciativa (quer compreender a presença ou ausência do alhures; do interdiscurso no fio do discurso, no intradiscurso) e Pragmática (quer compreender as razões pelas quais determinadas interpretações circulam na sociedade e outras não).
  • Tendência Foulcaultiana, de Michel Foucault: analisa as condições de possibilidade de irrupção dos discursos na sociedade.
  • Tendência Bakhtiniana, de Mikail Bakhtin: analisa a construção dos discursos na relação entre o "eu" e o "outro", pregando que o discurso é dialógico, ou seja, compreende várias 'vozes'.
  • Tendência crítica, de Norman Fairclough: analisa como as lutas sociais se materializam em práticas discursivas.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O Gerativismo

O gerativismo assume como um de seus pressupostos que a linguagem é uma capacidade inata do ser-humano, isto é, uma "propriedade" de nossa espécie. Podemos então dizer, que todo ser-humano apresenta um conhecimento linguístico que se desenvolve independentemente dos ensinamentos escolares e outro que é aprendido na escola. Essa foi a teoria gerativa, proposta pelo americano Noam Chomsky, que assumiu, como seu objeto de estudo, a descrição e a explicação de algumas características particulares do conhecimento linguístico adquirido e amplamente desenvolvido nos primeiros anos de vida de um ser humano, independentemente de instrução.
Temos então, após o apresentado acima, o seguinte trecho do livro 'Introdução à Linguística: I.Objetos teóricos' que resume bem com o que se interessa o Gerativismo:
'Os seres humanos nascem dotados de uma faculdade da linguagem. Essa faculdade da linguagem, em seu estado inicial, isto é, no estado em que ela está logo que a criança nasce, é considerada uniforme em relação a toda espécie humana. Isso significa que toda criança, independentemente de sua língua natural, são dotadas de uma mesma faculdade da linguagem e partem do mesmo estado inicial. Esse estado inicial vai sendo modificado à medida que a criança vai sendo exposta a um determinado ambiente linguístico. Assim, uma criança que cresce em um ambiente linguístico em que se fala português desenvolve o conhecimento dessa língua, a partir da interação da informação genética que ela traz no estado inicial de sua faculdade da linguagem com os dados linguísticos a que é exposta. Esse conhecimento permite às crianças construírem todas as sentenças possíveis de sua língua e somente elas.'

sábado, 25 de setembro de 2010

O Estruturalismo

O estruturalismo foi uma forma de pensar surgida nos anos 20 à partir das idéias de Saussure, que foi sua maior referência. Assim sendo, essa escola seguiu as idéias de Saussure, que encarava a língua como um sistema de inter-relações entre os elementos, que só podem ser definidos por essas relações de equivalência e oposição que mantém entre sí. Á essas relações, daremos o nome de estrutura. Além disso, essa foi uma escola que procurou descrever as línguas.
Essa escola linguística possui várias vertentes, a européia e a americana.

O ESTRUTURALISMO EUROPEU
A maior referência do estruturalismo europeu, foi Ferdinand de Saussure. Essa vertente estruturalista se baseia em dois princípios: o da estrutura e o da autonomia.
Segundo o princípio da estrutura, temos que os elementos de uma língua só podem ser propriamente caracterizados a partir da organização global que integram, ou seja, as unidades não são independentes do sistema, pertencendo à uma estrutura, sendo que existe uma interdependência entre essas unidades.
O princípio da autonomia, por outro lado, propõe que a organização de uma língua se dá internamente, isto é, é um dado original, não podendo ser obtida a partir de outra ordem de fatores externos psicológicos, sociológicos, históricos, culturais e etc.. Assim sendo, a língua não é uma etiqueta do real.
Utilizavam-se do método dedutivo, ou seja, hipotético, a partir do qual se formulavam hipóteses (teorias), buscando dados para confirmar ou não tal hipótese. Ia-se do geral ao particular. Além disso, o estruturalismo europeu tinha como corpus as línguas da antiguidade (latim, grego, sânscrito..).

O ESTRUTURALISMO AMERICANO
Sua maior referência foi Bloomfield, que pregava que o estudo da língua só se dava por meio do estudo da fala das pessoas.
O estruturalismo Bloomfieldiano também se baseia em dois princípios, o do indivíduo e o da substãncia.
O princípio do indivíduo destaca a importância do corpus na possibilidade de estudar-se a língua. Já o da substância prega que os fenômenos devem ser materialmente analisáveis para serem levados em conta. 
Os americanos utilizavam o método indutivo, a partir do qual parte-se de uma observação prévia para se fazer uma análise, ou seja, parte-se do particular ao geral.
Além disso, um dos maiores objetivos do estruturalismo americano era tentar descrever as línguas ágrafas dos índios norte-americanos, ou seja, havia um interesse político se relacionando com a ciência linguística. 


Existem algumas diferenças marcantes entre essas duas vertentes do Estruturalismo, tais como a diferença quanto ao objeto observado e também as definições de langue e parole, sendo a langue, para os americanos, uma derivação da parole, o que contraria o pensamento saussuriano. Bloomfield também acreditava que elementos já existentes levavam ao sistema, já Saussure pregava o inverso.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Saussurianismo

Depois de algum tempo volto a postar no blog. No post anterior disse que postaria sobre o 'Saussurianismo'.
Saussure elaborou teorias que contribuíram (e muito!) com o desenvolvimento da Linguística enquanto ciência e desencadearam o surgimento do Estruturalismo. Inaugurou também, a semiologia, que ele entendia como um ramo mais geral dos signos.
Graças à sua teoria, passa-se a delimitar melhor o objeto da linguística.
Saussure instaurou na ciência, diversas dicotomias, tais como: Língua x Fala, Sincronia x Diacronia, Sintagma x Paradigma e Significante x Significado. Todas essas dicotomias estão bem explicitadas no CLG (Curso de Linguística Geral), obra organizada por seus alunos do passado.

Para Saussure, a língua é um sistema, composto por elementos, que na oposição adquirem seu valor.Quando alguma alteração se dá em um elemento, todo o sistema se reorganiza. Além disso, a língua seria um produto social depositada na  mente de cada falante da comunidade linguística, diferentemente da fala, que é individual e sujeita a fatores externos que fogem do controle do falante.
Além disso Saussure instaura a noção de signo linguístico (combinação do significante-imagem acústica com o significado conceito), e as suas características, tais como a arbitrariedade, a linearidade e a mutabilidade e imutabilidade.

Em suma, Saussure é considerado o pai da Linguística, e deve ser leitura obrigatória à todos os iniciantes em Linguística.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

As Escolas (Linguística Histórica)

Como foi dito na última postagem, os estudos da Gramática Geral acerca da linguagem, passaram a ser questionados pela Linguística Histórica do século XIX.
O modelo de cientificidade dessa escola, como o próprio nome diz, é a história, ou seja, suas abordagens são diacrônicas, e ela defende o caráter transformacional das línguas, e não o seu caráter lógico-estático. Essa escola procurava responder questões como, o porque das línguas se transformarem e como elas se transformam.
No interior dessa escola surge o comparatismo, onde se buscava a língua-mãe que pudesse ter dado origem à todas as outras línguas européias. Essa busca se dava por meio de comparações entre línguas, estabelecendo seus laços de parentesco, ou seja, elas deviam ter um tronco comum.
Na gramática comparada estabelecia-se uma relação entre o sânscrito e a maioria das línguas européias, fossem elas antigas ou modernas. Essa relação se dava por correspondências entre as línguas, qualquer que fosse sua distância no tempo, procurando que elemento X de uma época ocupa o lugar do elemento Y da outra, ou seja, em momentos distintos, tal elemento ocupa a mesma posição que outro elemento, de outra língua.

Surge a tese do declínio das línguas, que tentava explicar as transformações das línguas. Segundo essa tese, a língua não era um meio, mas um fim: o espírito humano moldava-se como uma obra de arte, em que procurava representar-se a si mesmo.
As línguas tiveram de assumir 3 formas principais: isolantes, aglutinantes, e flexionais.
As isolantes eram inalisáveis, não se podia distinguir sequer elementos gramaticais dos lexicais;
As aglutinantes comportam palavras lexicais e gramaticais, mas não há regras para a formação de palavras;
Nas línguas flexionais, existem regras precisas que comandam a organização interna das palavras.

Segundo essa tese portanto, todas as línguas passaram de isolantes à flexionais, ou seja, passaram por estágios diferentes. Assim explicava-se as mudanças das línguas.

Já os neogramáticos diziam que as línguas se modificam por conta de sua organização interna. Para eles não há outra explicação para as mudanças da língua, senão a história.


Próximo post: Saussurianismo

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

As Escolas (Gramática Geral)

Antes de Saussure estabelecer suas teorias sobre a linguística, duas grandes escolas vigoraram no meio linguístico, a Gramática geral e a Linguística Histórica. Nesse post vou falar um pouco sobre a Gramática Geral e no próximo, sobre a Linguística Histórica.

Antes da Gramática Geral os únicos estudos sobre a linguagem se davam por meio de especulações filosóficas e literárias. Não havia um estudo sistematizado sobre a linguagem, pois ela era vista como simples ferramenta usada para compreender a literatura e a filosofia.
Com o advento da Gramática Geral de Port Royal se inicia uma certa sistematização da linguagem. Ela passa a ser vista como espelho do pensamento, ou seja, o lugar em que há uma organização mais clara e objetiva do pensamento, sendo que o mesmo, expressa-se por meio dela. Devido à isso, começa-se a pensar em categorias da linguagem, como por exemplo, as noções de sujeito e predicado, pois o pensamento, seria expresso por meio das frases, divididas em sujeito e predicado.
Vê-se portanto, que passa a haver uma adequação da linguagem à uma certa lógica matemática: esse era o modelo de cientificidade da Gramática Geral, e tudo que fugisse dessa lógica passava a não ser considerado linguagem.

Esse estudo passa a ser questionado pela Linguística Histórica, no século XIX.
Falaremos sobre essa escola no próximo post.